"(...)Não acontecia nada e o tédio não passava e ele sempre chegava em casa apenas pra ficar ali olhando o nada, sem nem conseguir dormir de tão vazio que se sentia. Até que naquele domingo, por algum motivo, a câmera em sua escrivaninha passou a lhe importunar profundamente. Com uma naturalidade um tanto bizarra, então, pressionou o botão vermelho e desligou-a, logo fazendo o mesmo com o resto das câmeras da casa – e pensando que muitos outros ao redor do mundo, e até mesmo muitos outros naquele edifício, tinham por costume fazer o mesmo de vez em quando; pensando que aquilo jamais poderia trazer-lhe grandes conseqüências.

Mas não."
O CARRASCO DE ÓRION

9.8.04

 

Irene já estava estacionada à frente daquele quadro fazia cerca de meia-hora. Por isso, assim que Caio teve a chance de escapar, tanto do grupo principal de visitantes da exposição, quanto de alguns dos poucos lags que tinham furado a segurança, aproximou-se dela, vitimado por uma curiosidade rara e inevitável. Ele a princípio tentou compreender o interesse dela sem ter de travar diálogo, mas olhava o quadro – o único em toda a exposição – e nenhuma resposta satisfatória pareceu vir dele, uma ilustração bastante ordinária no meio do desfile de linkagem, pós-lodismo e ciber-técnicas das outras obras de arte: era emoldurado por uma madeira simples e cinzenta, com não mais que 30 centímetros por 20, escuro em quase toda sua totalidade, e mostrava em seu centro, meio de lado, meio de costas, usando um vestido negro cujos contornos eram difíceis de ser distinguidos, uma mulher de cabelos ruivos, pele branca e um brilho muito claro nos olhos, também negros no resto.

Ele procurou por qualquer padrão não-clássico, até mesmo algum simbolismo, mas encontrou apenas traços fotográficos e um vazio indizível na maior parte da tela – vazio que até certo ponto era sua única coisa em comum com o restante da exposição. Além disso, imaginava que Irene logo lhe perguntaria alguma coisa, mesmo que ele nada fizesse para incentivá-la; já podia senti-la desconfortável com o silêncio, olhando-o com o rabo de olho de quando em quando.

- É uma coisa estranha esse quadro aqui, no meio dessa exposição. – declarou ele, virando-se para Irene, e apontando para a parede com o rosto, logo em seguida.
- Sônia disse isso, também. – ela sorriu em resposta, os lábios retos em proporção perfeita com o rosto redondo, que se inclinava levemente, em proporção perfeita com os ombros, retos e perfeitamente proporcionais a seu corpo magro, seu vestido colorido de corte sinuoso. – Discordei dela.

É claro que discordou, pensava Caio, que em outras ocasiões teria se irritado com este pensamento e desistido da conversa, mas naquele momento deu a seqüência óbvia:

- Por quê?
- Primeiro pelo vazio. Isto é óbvio.
- É, sim, claro. – ele sorriu, reparou na pose de Irene, em como ela devia estar ensaiando aquilo na própria cabeça antes e estar de fato muito feliz pela oportunidade de executar ao vivo.
- Segundo porque é um tema recorrente.

Caio abandonou a postura distante rumo a um estado de genuína confusão.

- Como?
- É um tema recorrente. A moça, o contraste vermelho e negro, os olhos brilhantes, estão na sala toda. A única diferença é que aqui estão todos juntos.
- Estão? Na sala toda?
- É o que me parece. A moça está no desenho meio bruto de giz da entrada, e aparece em duas daquelas hologravuras superpovoadas do salão escuro... desconfio ser ela na “Escultura Abstrata em Negro I”, bom, pelo menos o vestido parece. Quase todas as criaturas animadas dele têm os olhos brilhantes.
- Você está falando dos monstros? Monstros têm olhos brilhantes, mesmo.
- Ah, sim, claro que têm. De uma maneira geral. Imagino. Mas ainda assim é de nota, não acha?
- E as cores?
- Ah, eram as predominantes naquela linkagem de toque-colorido, acho que era esse mesmo o nome não? “Toque Colorido”?
- Nem lembro dessa sala. Pensei que você fosse falar do jogo.
- Jogo? Ah, o “Scenario”? Mas aquilo não chega a ser um jogo... chega?
- Ah, é divertido, deve ser um jogo. – ele sorri, dá de ombros, ela ligeiramente embaraçada.
- Sim. Bem. De qualquer jeito, vermelho, negro, um pouco de branco aqui e ali. Está em toda parte aqui, ou é um tema recorrente ou não entendo nada de arte.

Não senhor, ele não ia cair na armadilha de contestar o conhecimento estético de Irene, não mesmo.

- Deve ser alguma dessas coisas que ele esconde nas profundezas da própria alma, sabe. Um segredo terrível.
- Por exemplo? – ela franziu o rosto, desconfiada.
- Torce pelo Flamengo.

Ela voltou-se para ele com um sorriso de algum fundamento cômico, talvez levemente frustrada.

- Não, se fosse isso ele não usaria o branco às vezes.
- Ah, sim. Bom, faz sentido. Uma mulher que ele tenha conhecido, talvez?
- Essa é sua definição de segredo terrível, Caio? Bom, não descarto, mas não me parece muito Eduardo. Isto aqui tem um quê de obsessão.

Caio nada disse, fez apenas uma expressão com os lábios que equivalia a um “hã?”.

- Ah, de obsessão por um tipo, uma coisa. Obsessão! Não se explica. Uma coisa que você vá construindo a partir de uma característica sua, geralmente um problema, e projeta em alguma coisa externa até que vire uma fixação. Algo como uma paixão, um amor.
- Amor? – ele questionou, agora com vontade. – Amor, projeção?
- Amor, projeção.
- Não!
- Não o quê, Caio? É como as pessoas funcionam, se projetando aqui e ali, pedaços seus sobre os outros que definem o outro pra você, por semelhança ou oposição, se for um pedaço importante, a pessoa é importante, se for uma constante, a pessoa é constante, ou o tipo de pessoa é. Como em Pontes: “um outro, espelho de mim”.
- Desbrinca, Irene! Que reducionismo...
Ela já não estava brincando, ele sabia, mesmo com a pose ela estava falando sério.
- Reducionismo, pode ser, o reducionismo é algo também muito belo. Veja o nosso caso aqui, você acredita que eu, ao dizer que a arte do Eduardo é fruto de obsessão, estou tentando reduzi-la? De jeito maneira.
- Ah, não?
- Imagine. Alguém tão envolvido com um dilema próprio, magnificando uma parcela de si até a totalidade do eu, até ela ficar importante, esse é o tipo de coisa que torna a vida emocionante, bela.
- Isso se chama tempestade em copo d’água, Irene.
- Bonito.
- Arrumar sarna pra se coçar.
- Aham.
- Toda forma de amor.
- Qual o problema?
- O problema. Você não prestou atenção.
- Como não?
- Não, não prestou atenção. Preste atenção: amar é inventar sarna pra se coçar, nada mais, nada menos.
- Sim?
- Sim? Sim o quê?
- Você é que está questionando, como eu vou saber?
- É invenção, você está dizendo que o sentimento é invenção! Que o sentimento dele é mentira!
- Não, não, você está confundindo as coisas, em momento algum eu disse isso.
- Foi exatamente o que você disse!
- Eu não. Está bem. Então finjo que disse, que seja! Invenção, não mentira, porque invenção não é sinônimo de mentira.
- Claro que é!
- Por quê? Este quadro é uma invenção e é de verdade.
- Mas é um quadro!
- Qual a diferença?
- Tá na cara que é diferente!
- Não, não é diferente. Você acha que é, porque você acredita que o sentimento é diferente de todas as outras coisas na vida, e deve existir a priori, num estado de pureza bruta, imutável e não-criado, para ser considerado genuíno. Você pensa como um comentador medieval, como se a vontade não fosse capaz de criar uma emoção. Porque pra você e pra gente que pensa como você, emoção deve necessariamente ser algo totalmente ilógico e incompreensível, até paradoxal, sem motivo aparente de ser.
- Mas é!
- Tanto não é, que eu acabo de explicar de forma racional.

Pronto, quem mandou ele se meter a besta de puxar conversa? Porque ele insistia? Falar com Irene era debater com ela. Era tudo que ela queria e sabia fazer.

- Ai, porra... – ele deixou escapar um lamento.
- E posso explicar isto, essa obra, ou este conjunto de obras de arte, pelo mesmíssimo princípio. A necessidade de fuga do vazio de uma vida entediante, que leva à solidão, que leva à criação de uma ou mais contrapartes, gerando o conflito emocional. Lógico e belo, sem transcendentalismo, emoções inexplicáveis, nem nada disso, inventado como tudo mais na vida.
- Não.

A discussão os havia absorvido de maneira tão brusca, que nem tinham se apercebido da chegada de Eduardo, naquele momento a não mais do que um metro e meio de ambos; e que talvez já tivesse estado lá observando há muito. Sua voz estava baixa e grave, mas teve o impacto de um longo berro ao interromper as palavras de Irene.

- Não o quê? – Irene reagiu rapidamente, tentando disfarçar a surpresa.
- Não é inventado. – retrucou Eduardo.
- Por quê?
- Eu ouvi sua tentativa ridícula de me reduzir a uma fórmula de conflito psicológico, Irene. Sinto desapontá-la por ser mais que isso, e sinto muito por você ser incapaz de compreender.
- Compreender? – ela riu num sarcasmo nervoso. – Compreender o quê? - ele apenas apontou para o quadro com um gesto do rosto. – Eu já compreendi, você ouviu minha análise. Prove agora que eu errei.
- Não.
- Bom, Eduardo, talvez isso baste pra você escrever no seu logzinho, mas se você tem a intenção de discutir o assunto –
- Discutir? Não estou discutindo. Quem discute tem dúvidas.
- E você acha que não tem?
- Eu sei. Isto que você viu na sala não é criação. Estava lá antes que eu viesse lhe dar forma, soterrado em cantos onde gente como você não procura.
- Claro, talvez segredos obscuros e verdades que eu não suportaria.
- Sabe Irene, o pré-requisito pra que uma ironia deste tipo funcione é que ela enuncie o oposto da verdade. Teria dado certo se você tivesse sido sarcástica, mas, ah, que bobagem, nada disso é belo o bastante pra você.

Não havia uma brecha para o revide: o nó era tão grande que o tempo de destrinchá-lo era mais que o aceitável para uma resposta à altura. Eduardo era assim com ela, realmente, e sempre. Foram alguns minutos de silêncio, e ao longo deles era fácil perceber que Irene ainda matutava uma maneira qualquer de retomar suas indagações, mas ela logo pareceu profundamente irritada, deu as costas e saiu. Caio pensou que devia sorrir, mas naquele momento a parte sua que tinha raiva do raciocínio presunçoso de Irene perdia para a que tinha pena dela, e que ainda estava tentando entender porque Eduardo era o único, o único que ele já tinha visto rechaçá-la assim.

- Então. – recomeçou Caio – De que canto soterrado saiu a moça desse quadro?
- Sabe? Isso eu não sei. Ela me parece estranhamente familiar.
- Alguma lembrança de infância reprimida.
- Isso é sua resposta pra tudo?

Caio deu de ombros.

- Funciona. Na maior parte das vezes, funciona.


posted by Heitor 01:41

 

 

 

 

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A estória até agora (primeiro post em 22/07/2003):

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O LAR DO CARRASCO

Local: Rio de Janeiro, Brasil.

Época: 2058 D.C.

Condições: As cidades e as pessoas não mudam - não no que interessa. Mas se você se preocupa com os detalhes, eis um glossário para os perdidos.

DRAMATIS PERSONAE

Aécio: tutor de Márcia, a quem acolheu e criou desde muito nova.

Alice: mais nova residente do edifício de Eduardo, onde ocupa o décimo primeiro andar. Razoável, amigável, tolerante, bem-humorada, dona de olhos muito claros. Ocasionalmente causa um asco terrível e inexplicável a ele.

Ana: mulher misteriosa que Eduardo encontra no Jason’s. Pálida, cabelos da cor do fogo e olhos de um escuro imenso, fala de maneira oblíqua, desaparece quando bem entende e parece conhecer todos os segredos. Samantha alega que ela mente ao dizer seu nome.

Big H: hacker investigado por Caio, cujos logs costumava alterar de maneira provocativa.

Caio: músico do andar acima de Sônia. Sentia falta de intimidade. Freqüentava forums sobre sexo. Andava mexendo com um hacker chamado Big H. Foi encontrado morto no próprio quarto, talvez assassinado; muitas suspeitas recaem sobre Eduardo. Este por sua vez acha que foi Ana.

Dr. Cristóvam Ramirez: proprietário dos laboratórios Ramirez, foi o cabeça do projeto Ártemis. Tentou dissuadir, em vão, Oxford a não fugir com o Chronos. Desapareceu alguns anos atrás. Tem predileção por vocábulos de negação.

Dr. Richard Oxford: dono do restaurante onde Soraia atualmente trabalha. No passado, foi parte da equipe do projeto Ártemis, trabalhando com Ramirez. Desenvolveu o Chronos, um potente agente contra o envelhecimento, que por sua vez gerou um vírus terrível que exige vidas humanas para ser contido.

Dra. Anna Ericsson: bióloga, suas descobertas levaram à criação do projeto Ártemis, o qual integrou. Sônia verificou pelos arquivos que ela tinha os olhos escuros.

Eduardo: fio condutor da narrativa, é mestre em circuitos tecno-orgânicos de precisão, artista plástico frustrado e famoso bem sucedido. Profundamente entediado, adquiriu os hábitos peculiares de desligar as câmeras do seu vlog, de encontrar-se com uma ruiva de olhos escuros, e de ser suspeito de homicídio.

Heitor: autor desta estória.

Higínio: vigia dos registros de logs. Trabalha para a Z, mas tem um supervisor direto de identidade ainda desconhecida.

Homem de Capote Marrom: estranho de olhos muito claros por quem Márcia sentiu-se atraída uma noite no Jason’s, mas com quem nunca nem ao menos travou diálogo.

Irene: mora abaixo de Eduardo. Tem uma constituição física frágil mas esteticamente perfeita. Acredita em explicações lógicas para os sentimentos, e que o amor é uma projeção. Gosta de discutir e prender os outros interlocutores em armadilhas de argumentação lógica; Eduardo é o único capaz de rechaçá-la, o que tem por hábito fazer.

Jason: inglês, dono do bar Jason’s, freqüentado por Eduardo, trabalhou para a Z na busca dos restos do veículo ARX-Maglev.

Jorge: Engenheiro termodinâmico, reside dois andares abaixo de Eduardo, com quem simpatiza. Aficcionado pela profissão, metódico, muito sério no que faz, tem surtos de escapismo frenético.

Márcia: vizinha de Eduardo, mora no 1° andar do prédio. Perdeu os pais e o irmão gêmeo ao fugir na ARX-Maglev, quando criança. Pensa pouco antes de agir. Adora vermelho.

Maria: síndica do prédio, reside dois andares acima de Eduardo. Autoritária. Irrita-se com facilidade.

Miguel: vizinho de Eduardo, mora no andar imediatamente acima ao dele. Está de viagem há um mês e meio e deixou uma procuração com Alice para as reuniões de condomínio.

Mr. D: bio-hacker, aparentemente sub-contratado pela Z ou pela Styx. Criou a trava de segurança do vírus que o Chronos gerou.

Raphael Pontes: romancista de renome, autor de “De Fogo e de Vento”, a quem Sônia e Márcia muito apreciam.

Rubens: vizinho do 5° andar de Eduardo, é o mais jovem residente. Provocador e arrogante, irrita muito a Alice.

Safada_23, Fernanda, Taíse, Bruno, Carol, Luísa, Netrap, Hentai_Princess, Sweet, O outro e Slayer: participantes do holo-fórum “Debatendo Sexo em Aberto”. Caio acredita que Slayer seja, na verdade, Ana, e que ela tenha lhe enviado bilhetes. Slayer declarou que Caio morreria se continuasse a bisbilhotar Big H.

Samantha: irmã gêmea de Sônia, com quem divide agora o mesmo corpo e vida. Terrorista, promoveu diversos atentados aos laboratórios Ramirez. Deixou várias anotações misteriosas para a irmã, que as enviou a alguém que assina como R.

Sônia: repórter, mora dois andares acima de Márcia. Não é filha de um mortal. Sacrificou metade de sua vida para salvar a de Samantha, sua irmã gêmea. Recebeu bilhetes misteriosos que desconfia terem sido feitos por Eduardo. Rói as unhas. Tem uma curiosidade suicida.

Soraia: vizinha de cima de Márcia, bióloga em formação educacional, mas atualmente trabalhando como chefe de cozinha para Oxford. Já foi objeto do amor de Eduardo, que ainda lhe guarda rancor pelo desprezo que recebeu em troca; atualmente acusa-o de destruição de propriedade e do assassinato de Caio, nessa ordem. Tem imensas coleções no apartamento e olhos castanhos muito largos. Não gosta que gozem em seu edredom.

Tiago: antigo amigo de Eduardo, com quem perdeu o contato, reside na cobertura de seu edifício, onde passa o dia rabiscando desenhos, poemas e semelhantes obras de arte. Quieto e alienado do restante dos moradores, tem um séqüito de lags extremamente fiel.

VOCABULÁRIO

- .sdr: abreviatura de system damage report (relatório de danos no sistema); usada para identificar um formato de arquivo que mistura voz, texto e imagem para reconstituir e avaliar eventos danosos a um sistema digital.

- Amp: formato de gravação áudio/vídeo digital que consagrou-se como o mais rentável de todos, e eventualmente tornou-se sinônimo da gravação. Note-se que, hoje em dia, a capacidade de armazenamento dos drives caseiros (que existem em grande quantidade, cada pessoa possui vários drives e para várias funções) é tão grande, a de compressão do amp tão pequena, e a transferência da rede para qualquer aparelho, mesmo um trimag, tão rápida, que só os mais preciosistas preocupam-se em transferir as amps que possuem para DVD. A maioria apenas mantém um backup e pronto.

- Analfa: burro, idiota, estúpido, aculturado, etc. Membro da classe baixa, em oposição ao apelido “Huxleyano” da elite (alfa). Gíria muito antiga que retornou ao jargão recentemente.

- Bal: prazer, satisfação breve e facilmente adquirida.

- Ecotec: aglutinação dos vocábulos “tecnologia” e “ecologia”. Todo utensílio ligado à preservação do meio-ambiente, particularmente os mais modernos.

- Escrotar: você pode imaginar o que seja.

Fabrique: da gíria francesa “fabriqué”, muito em voga nos idos de 2030. Adjetivo que designa artificialidade, algo “com cara de recém-saído da fábrica”, certinho, reto, perfeitamente angulado, quadrado.

- Fud: misto de boite, motel, prostíbulo e casa de jogos muito comum na noite carioca.

- Grito-Mestre: objeto, quase sempre um documento, de grande importância, ou contendo informação importante.

- HV: holovisão. Aparelho semelhante à TV, só que em 3D. O nome completo, em teoria, é Tele-Holo-Visão, mas ninguém usa esse termo, mesmo formalmente.

- Maltrão: membro da classe baixa (ralé). Termo levemente informal.

- Mercúria: micro-câmera voadora para uso pessoal, programada para rotacionar em torno do usuário e filmá-lo de ângulos diversos. Usada em conjunto com o trimeg, permite que o dono de um log seja acompanhado online realmente 24hs. por dia. O modelo e a logo-marca pertencem a Z.

- OC: abreviação de Oceania, conglomerado empresarial originariamente asiático que domina os mercados da produção artística (música, escultura, cinema, teatro – a mais decadente de todas, dança, escrita fictícia e documentária, em prosa ou verso, pintura, arte sequencial e interativa), além das tecnologias de transporte, agricultura, fornecimento de alimentos e congêneres. É encarregada do fornecimento de drogas e é a criadora do soma. Além disso, encarrega-se do que já foi o Poder Legislativo. Teoricamente, compete com a Z e a Styx, mas todos sabem que elas são parceiras no que concerne ao governo do mundo.

- Ouél: membro da classe econômica alta (elite). De conotação apenas levemente informal.

- Pé: membro da classe baixa (ralé). Termo razoavelmente pejorativo.

- Pop: uma ampliação do sentido de hoje em dia. Além de abreviação para “popular” e “popularidade”, é a unidade de medida de audiência, e usado para qquer coisa q envolva audiência ou fama em geral.

- Rap: adjetivo para escandaloso, chamativo, estiloso.

- Ritar: chamar, ligar para, “telefonar” (quase não se usa mais telefone desde a popularização do vídeofone); atingir, acertar, golpear.

RPC: abreviação de “rio pra caralho” (ou “rindo pra caralho”); inspirada no “laugh my ass off” americanos, é usado em conversas de texto da Rede como expressão de estado de humor do interlocutor, e denota, como se pode deduzir, riso intenso, quase incontrolável.

- Rúfer: chefão, homem de cima, quem manda; alguém que não abdica de uma vantagem.

Streamline: corrente em inglês, designa uma via de acesso de dados em rede.

- Styx: conglomerado empresarial europeu que domina todos os setores bio-medicinais e de extração mineral (da medicina à clonagem, do garimpo às Usinas Solares e Nucleares). Além disso, são encarregados dos serviços funerários e do que já foi o Poder Executivo local, isto é, exercido nas unidades federativas (prefeito, governador, etc.), visto q o Executivo Nacional não mais existe como tal. Teoricamente é competidora da Z e da OC, mas é fácil deduzir que elas, na verdade, auxiliam-se mutuamente para ditar o rumo da Nova Ordem Mundial.

Tiltado(a): pasmo, estupefato; catatônico.

Torre: denominação dada a um setor de armazenamento de informações digitais organizado em níveis.

- Trimeg: corruptela de 3mg, por sua vez abreviação de mini-multi-media gadget, descendente distante do celular que congrega as funções de videofone, videogame, reprodutor e gravador de arquivos de áudio e vídeo, câmera filmadora e fotográfica, além de transferência de dados usuário-usuário, e acesso completo à Rede. A tecnologia e a logomarca pertencem à Z.

- Z: o maior conglomerado empresarial do mundo, surgiu na América do Norte e dominou todos os setores de informática, comunicação, fornecimento de energia, navegação aero-espacial e, como se não bastasse, virtualmente todo o arsenal bélico do planeta. Controla a Justiça, a(s) Igreja(s), e os registros históricos, tanto em arquivo como em museu. Em teoria, compete com a OC e a Styx; alguns diriam que todas as 3 trabalham em conjunto para governar o planeta; mas não seria exagero nenhum dizer que é Z quem detém o poder de fato.

- Zerar: acabado, terminado, completo, como nos videogames, mas de uso mais amplo.

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O MANDANTE DO CRIME

Nome: Heitor Coelho

Idade: 76

Paradeiro: desconhecido

Formado em: Direito com pós-graduação em Astrologia Jurídica; Astronomia; Teoria da Levitação; Projeciologia.

Gosta de ouvir: sons das profundezas do inferno ou laranjas caindo no lodo, o que vier primeiro.

Livro: sua cara por um preço camarada.

Nas horas vagas: viagens ao Submundo.

Qual a intenção desse blog: contar uma boa estória. Não reparou, retardado?

Signo: adivinha.

Aí, galera do Megazine: vão se fuder!

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