"(...)Não acontecia nada e o tédio não passava e ele sempre chegava em casa apenas pra ficar ali olhando o nada, sem nem conseguir dormir de tão vazio que se sentia. Até que naquele domingo, por algum motivo, a câmera em sua escrivaninha passou a lhe importunar profundamente. Com uma naturalidade um tanto bizarra, então, pressionou o botão vermelho e desligou-a, logo fazendo o mesmo com o resto das câmeras da casa – e pensando que muitos outros ao redor do mundo, e até mesmo muitos outros naquele edifício, tinham por costume fazer o mesmo de vez em quando; pensando que aquilo jamais poderia trazer-lhe grandes conseqüências.

Mas não."
O CARRASCO DE ÓRION

31.7.03

 

Quando apresentaram o plano para instalar câmeras nas casas de todos os cidadãos, teve gente no departamento dizendo que era loucura, uma afronta a tudo que restava da privacidade humana. Mas a Z lançou o produto.

Nunca nada vendeu tanto, nem tão rápido. 50 anos depois as pessoas sentiam-se desconfortáveis sem uma por perto.

Daí resolveram passar a registrar tudo. Por escrito. Tudo. Lógico que muita gente também achou loucura; outros, muito mais espertos, como Higínio, logo se voluntariaram. Memória 3D não era confiável – muito fácil de se alterar, muitos hackers para fazê-lo – e eles estavam certos. Fazia 30 anos.

Lógico que não era ele que registrava tudo. Eram as máquinas, aquele mar de máquinas ocupando o subsolo inteiro; 15 anos de obras e a maior parte da população ainda achava que tinha sido tudo pra reforma do esgoto. Bando de tapados.

Higínio deu uma boa olhada no pouco que podia ver das dezenas de quilômetros de extensão dos túneis, e suspirou. Era perfeito.

Então se virou para o monitor mais próximo e voltou à sua rotina de leitura. Claro, as máquinas escreviam tudo, mas somente seres humanos teriam a capacidade de supervisionar, e reportar qualquer estranheza aos superiores dentro da companhia. Não havia nada tão eficaz quanto um vigia humano, e quase nenhum tão eficaz quanto ele.

E durante todo este tempo, ele não tinha visto nada como o que acontecera no dia anterior. Nem muito menos podia compreender, como mal conseguia compreender qualquer coisa que tivesse feito aquele homem desde então, o modo como tinha agido. Por isso agora mantinha seu olhar constantemente sobre ele, e manteria até compreender.

* * *

“O log de Márcia Guerra Antunes: 100.345 visitas nas últimas 24 horas.

18:43 hs. de 04 de novembro de 2058.

Na sala, Márcia, Eduardo e Jorge.


MÁRCIA: ...e é por isso que o idiota nunca mais pensou em tentar me comer.
JORGE (sorrindo): Tá explicado.
EDUARDO: Pois é.
(breve silêncio. Márcia e Jorge entreolham-se.)
M: Caralho, Eduardo, que cara de quem engoliu ovo podre é essa?
E: Ovo...?
J: haha! Alô, Terra chamando Eduardo!
M: Sério, Du, cê.
E: Fica fria. (olha Jorge de soslaio)
M: Cê anda muito tristinho.
J: É você que é muito alegrinha. Desde que passou a Soraia...
E: Cê passou? A Soraia?
M: É! (afaga os próprios cabelos, sorrindo) Sou ou não sou o máximo?
J: Ô se é.
M: E nós nem comemoramos ainda.
J: É, mas o dia foi duro!
M: Vou pegar umas boas doses de soma. (levanta-se e vai até a cozinha)
J: Opa, isso vai ser bom. (para Eduardo) Como é, cara, se alegra aí!
E: Cê acha que é sério?
J: Hã? O quê?
E: Essa história do Tiago.
J: Ah, sei lá. Faz diferença?
M: (surge súbito pelo corredor) Voltei! Aqui, uma pra cada um.
E: Fica com a minha.
M: Iiiiiih...cê tá estranho, Du...
E: Como cê fez?
M: Fiz o quê?
E: Passou a Soraia. Quer dizer que cê tá de rúfer, agora.
M (insinuante): Você quer que eu mostre o que costumo fazer pro meu pop subir?
(Eduardo parece que vai dizer algo, fecha a boca e permanece calado. Parece muito entediado.)
M (para Eduardo): Duduu... Olha pra cá... (aproxima-se dele, puxa-o pelo queixo). Você sabe o que eu quero fazer agora?
J (rindo): Você quer é recuperar o pop que perdeu pra ele ontem!
E: Hein?
M: Tá com inveja dele, é? (repete o gesto que fez com Eduardo) Mas eu não esqueci de você não, bonitinho, eu vou.
E: Do que vocês estão falando?
J: Eu só tô dizendo porque ela vai fazer isso agora, e com você. Ela tá indo na sua onda.
M: (tirando o echarpe vermelho e envolvendo Jorge com ele) E daí? Faz alguma diferença?
E: Onda? Que onda?
J: A sua, idiota. (Márcia aproxima-se dele, desce lentamente até a altura do quadril) Aliás, eu ainda nem te cumprimentei pela idéia de ontem, foi. (Márcia inicia sexo oral com ele) Ah, caralho!
E (intrigado): Idéia...?
J: Aaaaah, aaaahhh! O negócio. Ah! Ah! Peraí.
(Eduardo olha para o nada e encosta a cabeça no braço, meditativo.)
J: Ah!
E (impassível): A câmera. Hm.
J: Isso, isso, a câmera... Vai logo, Márcia, eu tô quase gozando.
(diálogo irrelevante. Cortado.)
J: Ah, ah, AAAAAAAHHH! (orgasmo)
M (sorrindo, para Eduardo): Sua vez.
(Márcia vai até Eduardo, repete a ação. O rosto dele não se modifica. Jorge observa, levemente excitado.)
J: Você sabe, quando cê apagou a câmera ontem.
E: Você viu isso?
J: Eu? Não, porque eu faria isso? (passa a mão por Márcia) Tá malhando, é?
M: Não, nasci assim.
J: Que mentira. Enfim.
M (interrompe brevemente): Mmmhmmm, hm. Nossa, você está difícil hoje, Duzinho.
J: Genial esse seu lance com a câmera. De onde cê tirou essa?
(Jorge despe Márcia, inicia penetração vaginal.)
E: Tirei? De lugar nenhum.
M: Mais rápido, Jorge, porra!
J: Fica fria aí, mulher. Mas então... seu pop deu um salto fuderoso.
M: Hmhm. Ah. O que não quer dizer grande coisa.
J: É, diz aí, o que você fez ontem que precisou tanto assim esconder?
E (confuso; dá de ombros): Nada.
J: Ah, tá bom.
M: Mmmm. Fala Dudu, vai? Mhmmm.
(Eduardo observa ambos, em silêncio. O rosto se torce em desgosto.)
E: Nada. Não foi nada.
J: Eduardo, Eduardo. Sempre escondendo o jogo.
M: Ah, Eduardo, ah, ah, essa brincadeirinha não vai te levar a. Ai, ai, tô gozando, Ah!
(Eduardo se afasta, coloca as calças de volta no lugar.)
M: Dudu! Que foi, volta aqui? Me larga, Jorge! Du!
J: Onde cê vai, cara?
E: Lugar nenhum.
J: Alguma coisa errada?
M: Não tava gostoso?
E: Tava, sim.
M: Mentira, Eduardo! Olha, você tem que me dizer como gosta.
E (vai até a porta): Não.
J: Não?
M: Não? Como assim, não?
(Eduardo sai.)

15.337 visitas no período analisado. Média 38,53% superior ao do dia anterior. Parcela de 42,07% do total do dia.”

“Pedido: registro por câmera de Eduardo ... a partir das 20:15 hs. de 15/09/84. Procurando...

posted by Heitor 20:34

25.7.03

 

I. IMPULSOS


Era uma placa de moto muito, muito antiquada, da época em que elas ainda eram feitas de metal; mas isso não impedia Jason de ostentá-la com orgulho triunfal na porta de entrada de seu bar.

Ninguém dava muita bola, parecia ser apenas um detalhe bobo que adicionasse ao clima antigo das instalações. Se você perguntasse ao próprio Jason ele também não lhe responderia grande coisa, e embora talvez você conseguisse ver um suspiro ou dois por entre sua resposta, o máximo que ele diria era o óbvio: que aquela placa pertencera ao primeiro veículo de uma série, fato evidenciado pela identificação alfa-numérica “AAA-0001”. Diante de muita insistência, ou ainda, diante de fãs e conhecedores de motos antigas, ele às vezes deixaria escapar o modelo – uma AR-X Maglev, a famigerada “Cabra Voadora”, que recebera esse nome pelos guidões em forma de chifre, o primeiro modelo de moto flutuante do mundo! E o sujeito que descobria saía de lá maravilhado por ter encontrado tamanha relíquia, mas sem fazer idéia de como ou porque ela tinha ido parar onde estava.

De qualquer modo, Jason jamais se daria ao trabalho de narrar novamente sua grande aventura com o grupo de colegas de trabalho, tentando desesperadamente encontrar os remanescentes da lata-velha para comprovar que a patente pertencia à Z. Rios e rios de dinheiro envolvidos, eles perdidos em incontáveis labirintos de ferro-velho, passando clandestinamente pelos guardróides voadores... descobriram que a placa era tudo que restava. Mas era o bastante.

E quando perdeu a utilidade para os patrões... bom, não pôde deixar que jogassem fora, simplesmente não pôde. Ficou com a placa e, com o dinheiro do serviço, comprou aquele bar idiota, passando a adotar esta terra estranha à qual ele havia rapidamente se ligado, de forma irreversível, como lar.

Mas o que acontecera com a moto antes que Jason encontrasse seus pedaços... isso nem ele mesmo imaginava.

* * *

Márcia ajoelhou-se em frente à foto velha, carcomida pelas bordas, e fez o que qualquer um duvidaria que fizesse:

Rezou.

Não era bem uma reza, talvez não como se imagina que faça. Ela não falava com Deus, nem mesmo com seu irmão gêmeo, ao seu lado na foto, quase vinte anos atrás, tão novinho; pensando bem, ela não falava nada. Palavras pareciam estúpidas. Ela ficava ali e... meditava? Pensava? Lembrava?

Ela tinha dez anos. Morava com a mãe num apartamento na Borges de Medeiros, lá pela terceira ou quarta camada. Era um lugar privilegiado; tinha três quartos e uma vista com céu aberto, uma raridade.

Claro, não era nada comparado à casa de seu pai – seu pai era rico. Ele era inventor - ou projetista, engenheiro, o que fosse. Fazia motos. Estava com outra mulher – estava com muitas mulheres. Márcia sempre ouviu sua mãe dizer que as pessoas se casavam, ficavam presas em pares pra sempre, mas não se lembrava direito e não se interessava em tentar com afinco. Na verdade, hoje em dia não se lembrava bem de nada daquilo, de seu irmão, seu pai, sua mãe, nem de nada do que aconteceu. Só guardava uma lição preciosa.

Acordou de madrugada com o irmão e fugiram. Ele ia morrer, dizia sua mãe. Morrer. Não era a polícia batendo na porta da sua casa, naquela noite. Era alguém pior. Só tinha um jeito de sair dali rápido, sua mãe pensava alto, um jeito. Um projeto. Guardado na garagem por algum pequeno defeito, abandonado pelo criador.

Márcia e o irmão – ela queria tanto lembrar seu nome – subiram na moto; ela voava, voava! Era maravilhoso. Ela estava tão distraída, tão feliz com a novidade miraculosa de sobrevoar a Lagoa Rodrigo de Freitas naquela estranha moto que parecia uma ovelhinha. Mais tarde ficou sabendo que a chamavam de “Cabra Voadora”, mas para ela, que primeiro utilizou o modelo, seria sempre uma ovelhinha.

Nem reparou quando seu irmão caiu. Só se lembra de seu rosto apavorado enquanto ele rumava para a água e para a morte certa. E lembra-se de como chorou quando chegou à margem, e de como o Dr. Aécio a acolheu, mesmo sabendo que a família inteira era perseguida. Ele explicou sobre quem a perseguia, e que se tratava de uma força contra a qual ela não poderia lutar; e explicou que, enquanto um traço que fosse do projeto restasse, ela estaria fadada a morrer.

- Mas eu não quero morrer. – disse ela ao Dr. – Quero ficar viva. Não posso?

- Você sempre pode fazer tudo que quiser, meu bem. Mas sempre tem um preço.

Márcia sabia que o preço para sua vida seria, não só o sacrifício de toda sua família, mas daquilo que, agora entendia, tinha sido a causa de sua morte: a maravilhosa moto voadora que salvara sua vida. E ela não queria perder a moto, mas muito mais que isso, queria viver.

Pagou o preço. Entregou a ARX-Maglev à Z. Através do seu agora tutor, o Dr. Aécio, abriu mão até da patente; mas não de sua vida.

Pois ela queria viver, e sempre conseguia o que queria.

posted by Heitor 21:52

22.7.03

 

Eduardo estava entediado.

Chegou a pensar que fosse a dor de cabeça. Depois, que fosse só o domingo, dia da semana que é eternamente uma ressaca – mesmo quando você não faz nada no dia anterior.

Mas não.

Estava entrando pro campo dos logs de maior pop do país. E estava com um dos melhores pops. Tinha acabado de ser promovido no trabalho, o que lhe dera direito a um apartamento espaçoso num condomínio de luxo, equipamento de informática novo, e a um enorme estoque de soma (capaz de causar inveja a todos os vizinhos). Mas continuava com um vazio tão grande, tão grande que lhe desafiava qualquer explicação racional. Lembrou-se que tinha dito uma vez, quando era mais jovem, que aquilo era tudo que ele poderia querer da vida um dia, que quando tivesse aquilo tudo, com certeza, estaria feliz. E fez como mandaram seus pais, professores, e instrutores: estudou, não se juntou a nenhuma gangue, não foi a nenhum fud proibido, nunca passou da dosagem certa de soma, nem dirigiu alterado. Formou-se técnico em circuitos tecnorgânicos após abandonar o arriscado sonho da arte plástica, pensando que, assim que tivesse os recursos e a fama para lançar sua arte, seria feliz.

Mas não.

Chegara a um ponto em que parecia não importar o tanto de soma que ingeria, já não alterava em nada seu estado de consciência. No trabalho, mesmo depois da promoção, a única coisa em que pensava era em sair dali o mais rápido possível – nunca mais tendo tido inspiração, tempo, ou mesmo paciência para retomar o que chamara de arte, termo que agora lhe causava profundo desgosto. E de resto, se seu pop tinha passado a despencar na última semana, era porque simplesmente nada de emocionante acontecia em sua vida – o que o levava a pensar: “merda, alguma hora, algum dia desses a graça que tinha fazer qualquer dessas coisas vai voltar, e tudo vai ser emocionante de novo.”

Mas não.

Não acontecia nada e o tédio não passava e ele sempre chegava em casa apenas pra ficar ali olhando o nada, sem nem conseguir dormir de tão vazio que se sentia. Até que naquele domingo, por algum motivo, a câmera em sua escrivaninha passou a lhe importunar profundamente. Com uma naturalidade um tanto bizarra, então, pressionou o botão vermelho e desligou-a, logo fazendo o mesmo com o resto das câmeras da casa – e pensando que muitos outros ao redor do mundo, e até mesmo muitos outros naquele edifício, tinham por costume fazer o mesmo de vez em quando; pensando que aquilo jamais poderia trazer-lhe grandes conseqüências.

Mas não.

posted by Heitor 00:40

 

 

 

 

Pop:

Weblog Commenting by HaloScan.com

A estória até agora (primeiro post em 22/07/2003):

07/01/2003 - 08/01/2003   08/01/2003 - 09/01/2003   09/01/2003 - 10/01/2003   10/01/2003 - 11/01/2003   11/01/2003 - 12/01/2003   02/01/2004 - 03/01/2004   03/01/2004 - 04/01/2004   05/01/2004 - 06/01/2004   06/01/2004 - 07/01/2004   07/01/2004 - 08/01/2004   08/01/2004 - 09/01/2004   09/01/2004 - 10/01/2004   10/01/2004 - 11/01/2004   11/01/2004 - 12/01/2004  

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O LAR DO CARRASCO

Local: Rio de Janeiro, Brasil.

Época: 2058 D.C.

Condições: As cidades e as pessoas não mudam - não no que interessa. Mas se você se preocupa com os detalhes, eis um glossário para os perdidos.

DRAMATIS PERSONAE

Aécio: tutor de Márcia, a quem acolheu e criou desde muito nova.

Alice: mais nova residente do edifício de Eduardo, onde ocupa o décimo primeiro andar. Razoável, amigável, tolerante, bem-humorada, dona de olhos muito claros. Ocasionalmente causa um asco terrível e inexplicável a ele.

Ana: mulher misteriosa que Eduardo encontra no Jason’s. Pálida, cabelos da cor do fogo e olhos de um escuro imenso, fala de maneira oblíqua, desaparece quando bem entende e parece conhecer todos os segredos. Samantha alega que ela mente ao dizer seu nome.

Big H: hacker investigado por Caio, cujos logs costumava alterar de maneira provocativa.

Caio: músico do andar acima de Sônia. Sentia falta de intimidade. Freqüentava forums sobre sexo. Andava mexendo com um hacker chamado Big H. Foi encontrado morto no próprio quarto, talvez assassinado; muitas suspeitas recaem sobre Eduardo. Este por sua vez acha que foi Ana.

Dr. Cristóvam Ramirez: proprietário dos laboratórios Ramirez, foi o cabeça do projeto Ártemis. Tentou dissuadir, em vão, Oxford a não fugir com o Chronos. Desapareceu alguns anos atrás. Tem predileção por vocábulos de negação.

Dr. Richard Oxford: dono do restaurante onde Soraia atualmente trabalha. No passado, foi parte da equipe do projeto Ártemis, trabalhando com Ramirez. Desenvolveu o Chronos, um potente agente contra o envelhecimento, que por sua vez gerou um vírus terrível que exige vidas humanas para ser contido.

Dra. Anna Ericsson: bióloga, suas descobertas levaram à criação do projeto Ártemis, o qual integrou. Sônia verificou pelos arquivos que ela tinha os olhos escuros.

Eduardo: fio condutor da narrativa, é mestre em circuitos tecno-orgânicos de precisão, artista plástico frustrado e famoso bem sucedido. Profundamente entediado, adquiriu os hábitos peculiares de desligar as câmeras do seu vlog, de encontrar-se com uma ruiva de olhos escuros, e de ser suspeito de homicídio.

Heitor: autor desta estória.

Higínio: vigia dos registros de logs. Trabalha para a Z, mas tem um supervisor direto de identidade ainda desconhecida.

Homem de Capote Marrom: estranho de olhos muito claros por quem Márcia sentiu-se atraída uma noite no Jason’s, mas com quem nunca nem ao menos travou diálogo.

Irene: mora abaixo de Eduardo. Tem uma constituição física frágil mas esteticamente perfeita. Acredita em explicações lógicas para os sentimentos, e que o amor é uma projeção. Gosta de discutir e prender os outros interlocutores em armadilhas de argumentação lógica; Eduardo é o único capaz de rechaçá-la, o que tem por hábito fazer.

Jason: inglês, dono do bar Jason’s, freqüentado por Eduardo, trabalhou para a Z na busca dos restos do veículo ARX-Maglev.

Jorge: Engenheiro termodinâmico, reside dois andares abaixo de Eduardo, com quem simpatiza. Aficcionado pela profissão, metódico, muito sério no que faz, tem surtos de escapismo frenético.

Márcia: vizinha de Eduardo, mora no 1° andar do prédio. Perdeu os pais e o irmão gêmeo ao fugir na ARX-Maglev, quando criança. Pensa pouco antes de agir. Adora vermelho.

Maria: síndica do prédio, reside dois andares acima de Eduardo. Autoritária. Irrita-se com facilidade.

Miguel: vizinho de Eduardo, mora no andar imediatamente acima ao dele. Está de viagem há um mês e meio e deixou uma procuração com Alice para as reuniões de condomínio.

Mr. D: bio-hacker, aparentemente sub-contratado pela Z ou pela Styx. Criou a trava de segurança do vírus que o Chronos gerou.

Raphael Pontes: romancista de renome, autor de “De Fogo e de Vento”, a quem Sônia e Márcia muito apreciam.

Rubens: vizinho do 5° andar de Eduardo, é o mais jovem residente. Provocador e arrogante, irrita muito a Alice.

Safada_23, Fernanda, Taíse, Bruno, Carol, Luísa, Netrap, Hentai_Princess, Sweet, O outro e Slayer: participantes do holo-fórum “Debatendo Sexo em Aberto”. Caio acredita que Slayer seja, na verdade, Ana, e que ela tenha lhe enviado bilhetes. Slayer declarou que Caio morreria se continuasse a bisbilhotar Big H.

Samantha: irmã gêmea de Sônia, com quem divide agora o mesmo corpo e vida. Terrorista, promoveu diversos atentados aos laboratórios Ramirez. Deixou várias anotações misteriosas para a irmã, que as enviou a alguém que assina como R.

Sônia: repórter, mora dois andares acima de Márcia. Não é filha de um mortal. Sacrificou metade de sua vida para salvar a de Samantha, sua irmã gêmea. Recebeu bilhetes misteriosos que desconfia terem sido feitos por Eduardo. Rói as unhas. Tem uma curiosidade suicida.

Soraia: vizinha de cima de Márcia, bióloga em formação educacional, mas atualmente trabalhando como chefe de cozinha para Oxford. Já foi objeto do amor de Eduardo, que ainda lhe guarda rancor pelo desprezo que recebeu em troca; atualmente acusa-o de destruição de propriedade e do assassinato de Caio, nessa ordem. Tem imensas coleções no apartamento e olhos castanhos muito largos. Não gosta que gozem em seu edredom.

Tiago: antigo amigo de Eduardo, com quem perdeu o contato, reside na cobertura de seu edifício, onde passa o dia rabiscando desenhos, poemas e semelhantes obras de arte. Quieto e alienado do restante dos moradores, tem um séqüito de lags extremamente fiel.

VOCABULÁRIO

- .sdr: abreviatura de system damage report (relatório de danos no sistema); usada para identificar um formato de arquivo que mistura voz, texto e imagem para reconstituir e avaliar eventos danosos a um sistema digital.

- Amp: formato de gravação áudio/vídeo digital que consagrou-se como o mais rentável de todos, e eventualmente tornou-se sinônimo da gravação. Note-se que, hoje em dia, a capacidade de armazenamento dos drives caseiros (que existem em grande quantidade, cada pessoa possui vários drives e para várias funções) é tão grande, a de compressão do amp tão pequena, e a transferência da rede para qualquer aparelho, mesmo um trimag, tão rápida, que só os mais preciosistas preocupam-se em transferir as amps que possuem para DVD. A maioria apenas mantém um backup e pronto.

- Analfa: burro, idiota, estúpido, aculturado, etc. Membro da classe baixa, em oposição ao apelido “Huxleyano” da elite (alfa). Gíria muito antiga que retornou ao jargão recentemente.

- Bal: prazer, satisfação breve e facilmente adquirida.

- Ecotec: aglutinação dos vocábulos “tecnologia” e “ecologia”. Todo utensílio ligado à preservação do meio-ambiente, particularmente os mais modernos.

- Escrotar: você pode imaginar o que seja.

Fabrique: da gíria francesa “fabriqué”, muito em voga nos idos de 2030. Adjetivo que designa artificialidade, algo “com cara de recém-saído da fábrica”, certinho, reto, perfeitamente angulado, quadrado.

- Fud: misto de boite, motel, prostíbulo e casa de jogos muito comum na noite carioca.

- Grito-Mestre: objeto, quase sempre um documento, de grande importância, ou contendo informação importante.

- HV: holovisão. Aparelho semelhante à TV, só que em 3D. O nome completo, em teoria, é Tele-Holo-Visão, mas ninguém usa esse termo, mesmo formalmente.

- Maltrão: membro da classe baixa (ralé). Termo levemente informal.

- Mercúria: micro-câmera voadora para uso pessoal, programada para rotacionar em torno do usuário e filmá-lo de ângulos diversos. Usada em conjunto com o trimeg, permite que o dono de um log seja acompanhado online realmente 24hs. por dia. O modelo e a logo-marca pertencem a Z.

- OC: abreviação de Oceania, conglomerado empresarial originariamente asiático que domina os mercados da produção artística (música, escultura, cinema, teatro – a mais decadente de todas, dança, escrita fictícia e documentária, em prosa ou verso, pintura, arte sequencial e interativa), além das tecnologias de transporte, agricultura, fornecimento de alimentos e congêneres. É encarregada do fornecimento de drogas e é a criadora do soma. Além disso, encarrega-se do que já foi o Poder Legislativo. Teoricamente, compete com a Z e a Styx, mas todos sabem que elas são parceiras no que concerne ao governo do mundo.

- Ouél: membro da classe econômica alta (elite). De conotação apenas levemente informal.

- Pé: membro da classe baixa (ralé). Termo razoavelmente pejorativo.

- Pop: uma ampliação do sentido de hoje em dia. Além de abreviação para “popular” e “popularidade”, é a unidade de medida de audiência, e usado para qquer coisa q envolva audiência ou fama em geral.

- Rap: adjetivo para escandaloso, chamativo, estiloso.

- Ritar: chamar, ligar para, “telefonar” (quase não se usa mais telefone desde a popularização do vídeofone); atingir, acertar, golpear.

RPC: abreviação de “rio pra caralho” (ou “rindo pra caralho”); inspirada no “laugh my ass off” americanos, é usado em conversas de texto da Rede como expressão de estado de humor do interlocutor, e denota, como se pode deduzir, riso intenso, quase incontrolável.

- Rúfer: chefão, homem de cima, quem manda; alguém que não abdica de uma vantagem.

Streamline: corrente em inglês, designa uma via de acesso de dados em rede.

- Styx: conglomerado empresarial europeu que domina todos os setores bio-medicinais e de extração mineral (da medicina à clonagem, do garimpo às Usinas Solares e Nucleares). Além disso, são encarregados dos serviços funerários e do que já foi o Poder Executivo local, isto é, exercido nas unidades federativas (prefeito, governador, etc.), visto q o Executivo Nacional não mais existe como tal. Teoricamente é competidora da Z e da OC, mas é fácil deduzir que elas, na verdade, auxiliam-se mutuamente para ditar o rumo da Nova Ordem Mundial.

Tiltado(a): pasmo, estupefato; catatônico.

Torre: denominação dada a um setor de armazenamento de informações digitais organizado em níveis.

- Trimeg: corruptela de 3mg, por sua vez abreviação de mini-multi-media gadget, descendente distante do celular que congrega as funções de videofone, videogame, reprodutor e gravador de arquivos de áudio e vídeo, câmera filmadora e fotográfica, além de transferência de dados usuário-usuário, e acesso completo à Rede. A tecnologia e a logomarca pertencem à Z.

- Z: o maior conglomerado empresarial do mundo, surgiu na América do Norte e dominou todos os setores de informática, comunicação, fornecimento de energia, navegação aero-espacial e, como se não bastasse, virtualmente todo o arsenal bélico do planeta. Controla a Justiça, a(s) Igreja(s), e os registros históricos, tanto em arquivo como em museu. Em teoria, compete com a OC e a Styx; alguns diriam que todas as 3 trabalham em conjunto para governar o planeta; mas não seria exagero nenhum dizer que é Z quem detém o poder de fato.

- Zerar: acabado, terminado, completo, como nos videogames, mas de uso mais amplo.

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O MANDANTE DO CRIME

Nome: Heitor Coelho

Idade: 76

Paradeiro: desconhecido

Formado em: Direito com pós-graduação em Astrologia Jurídica; Astronomia; Teoria da Levitação; Projeciologia.

Gosta de ouvir: sons das profundezas do inferno ou laranjas caindo no lodo, o que vier primeiro.

Livro: sua cara por um preço camarada.

Nas horas vagas: viagens ao Submundo.

Qual a intenção desse blog: contar uma boa estória. Não reparou, retardado?

Signo: adivinha.

Aí, galera do Megazine: vão se fuder!

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